Mercado único (visão de um comunocapitalista).

Portugal está no “mercado único”. Nesse mercado há profissionais a ganhar 26.000€ e outros mais de 120.000€ para desempenhar as mesmas funções.

(No exemplo acima usámos o ordenado de professores que desempenham as mesmas funções em Portugal e no Luxemburgo, respectivamente.)

Esses profissionais, porque vivem no mesmo mercado, concorrem na compra de produtos e serviços. Claro que o “custo de vida” nos países em que se recebe mais, é também mais caro. Ou pelo menos é a essa ideia que nos queremos agarrar, mas a verdade é que a ideia de “mercado único europeu” e “custos de vida diferentes em zonas diferentes” não são compatíveis.

A cerveja numa esplanada é naturalmente mais cara do que no supermercado e estamos todos pacificados com isso, até porque podemos ir comprá-la ao local mais barato. O problema surge quando o “local mais barato” deixa de existir, ou quando passa a ser tão caro como os mais caros.

Porque é que hei-de eu vender o meu T3 por 150.000€ quando há gente que o compra por 500.000€? Só se for parvo e isso os portugueses não são. Ou serão?

As condições impostas a um português que queira comprar casa são exactamente as mesmas que a um Alemão ou Luxemburguês e porque é que um cidadão, que pode investir num destinos turísticos com uma das maiores taxas de crescimento do mundo, não haveria de o fazer?

Claro que o faz e bem. Mas porque os preços das habitações mais do que duplicaram no últimos anos nos locais onde vive mais de 50% da população portuguesa, as populações que lá viviam e vivem, deixaram de ter capacidade para lá habitar.

Poder-se-á concluir que há duas soluções:

1 – Limitar a compra de casas por cidadãos estrangeiros – o que não resolveria o problema porque poder-se-iam usar “testas de ferro”. Além disso isso seria acabar com o “mercado único”.

2 – Fazer equivaler os rendimentos dos trabalhadores do “mercado único”, isto é subir os ordenados dos portugueses para o mesmo nível dos seus co-consumidores.

Poder-se-á dizer que se caminha para esta segunda hipótese, mas o rendimento per capita de Portugal é muito baixo e portanto terá que se aumentar a competitividade para podermos equiparar-nos aos países “mais desenvolvidos” do que nós. Ou seja, a continuar o caminho de sempre chegaríamos lá, mas nunca.

E porque não subir os ordenados de 1000€ para 5000€ amanhã?

Porque isso iria criar uma inflação instantânea acima de três dígitos! Sim, verdade, seria o mais provável. E qual é o problema?

Deixaríamos de exportar, teríamos sanções de todos os outros países e mais uma miriade de problemas que não caberiam em mil páginas de jornal!

Tudo verdade, mas apenas por alguns meses, depois descobriríamos que o canalizador irlandês é tão competente como o português, e que o contabilista suíço não faz nada mais do que o contabilista português. Poderíamos até descobrir que a nossa balança, que pesa sempre mais do lado das importações, até nem sofreria assim tanto com as possíveis reduções de exportações.

Finalmente poderíamos até descobrir que o mecanismo que nos falta desde que temos moeda única – que seria o de valorização e desvalorização da moeda – poderia ser usado a nosso favor, porque se não podemos fazer variar a moeda, isso significaria que a inflação “provocada” por este reequilibrio económico seria diluída por toda a união europeia, ao invés de apenas Portugal – porque o mercado é único.
“Mercado único” – percebe o que isto quer dizer?

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Demografia ou demagogia

A população nos países com melhores condições de vida está a decrescer. Em Portugal observa-se o mesmo fenómeno, com um crescimento acentuado do número de mortes.
É algo que deve preocupar e que deve ser atendido, começando pela descoberta da origem destas mortes.

O raciocínio que muitíssimas vezes se faz a seguir é que parece ilógico:
“Se temos pouca população então devemos promover o nascimento de mais gente”.
Isto poderia fazer sentido se fosse verdade, mas a realidade é que a população mundial nunca foi tão grande e nunca cresceu tão rapidamente como agora. Assim se vê que o “problema” nunca foi falta de população, mas exactamente o contrário.

Os que tiverem preocupações com a sobrevivência de portugueses poderão discordar dizendo que o facto é que Portugal terá que aumentar o número de nascimentos na sua população e que isso é independente das variações da população mundial. Isso seria supor que seria possível isolar-nos do resto do mundo. Não é possível – o que fazem os nossos antípodas Neozelandeses também nos afecta e vice-versa.

Acreditando que a população portuguesa teria que crescer – o que por si só será, pelo menos, digno de discussão.

Resta pensar o que teremos que fazer localmente, mas pensando – como deveria ser sempre – globalmente.

Para Portugal continuar a ser português, terá que ter o seu principal ingrediente – portugueses.
Não é necessário nascer em Portugal para ser português, mas também não podemos atribuir nacionalidade aleatoriamente, ou a quem a pagar mais, ou a quem marcar mais golos.

Deverá haver regras claras e iguais para todos os que queiram ser portugueses. E poder-se-à até sugerir limites por zona do país e até por origem do candidato. Tentando assim evitar guetizações que seriam contraproducentes para a integração.

Apesar de serem políticas muito mais indolores do que o que surgirá da sua não-implementação, será fácil ser descrente, porque numa sociedade onde só o crescimento é valorizado, é praticamente impossível sugerir travões a esse crescimento.
Mas também é preciso acordar para o facto de que se não contivermos a falta de limites, eventualmente descobri-los-emos involuntariamente.

Partidos

Se fossemos todos menos inteligentes, talvez conseguíssemos viver com escolhas monocromáticas, por exemplo: Ter uma religião e, por isso, ser contra as outras. Ser de um clube e, por isso, ser contra os outros. Ter uma sexualidade e, por isso, ser contra as outras. As pessoas que são assim, são estúpidas!
InsertBrainNão tenho nada contra estúpidos, valorizo-os como quaisquer outros e, às vezes, até faço parte desse grupo, mas sem deixar de tentar sempre excluir-me.
Fazer das fraquezas força, não é o mesmo que ter orgulho nas fraquezas.
Percebo as simpatias clubísticas e até as picardias entre clubes, mas achar verdadeiramente que as pessoas de outro clube são diferentes só por isso… é estúpido.

Será preciso repetir tudo o que disse mudando “clubes” para “partidos”? Ou conseguiremos aprender com analogias?

 

 

Oposição

Sabem o que é que era giro?

Deixar de chamar oposição aos partidos que não estão no exercício de funções governativas.

A função dos partidos, ao contrário do que se pensa, não é estar no poder ou no oposto a este. A verdadeira e nobre função é a causa pública.
Para se defender o que se acha certo para o bem comum, é preciso muitas vezes concordar com outras ideias que não as nossas. Parece uma lapaliçada, mas basta olhar as propostas e votações do nosso parlamento para se ver que a origem da ideia é muitas vezes mais importante do que a sua validade própria.

Catalóis (ou Espanhães)

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Cristo na Sagrada Família

Alguma Catalunha não quer ser Espanha, quer ser só Catalunha.

Percebemos os que acham que não pode simplesmente deixar-se que as várias regiões com tendências independentistas se separem do resto do país. Isto abriria possibilidade à completa desagregação de Espanha em pelo menos 3 ou 4 estados diferentes.

Para descobrirmos uma solução teríamos que ir à origem da nação Espanha e até ao conceito de país. Não iremos. Ficamo-nos pelo início do ano quando este “referendo” começou a materializar-se, primeiro na mente de alguns e depois nos actos de   muitos independentistas.

Se estivermos nos sapatos de Espanha é impossível que permitamos que uma das suas regiões simplesmente deixe de o ser. Nenhum país no mundo prevê a possibilidade legal de perder parte do seu território.

Mas se nos colocarmos no lugar da Catalunha e considerarmos que  Espanha é um opressor que governa sem direito, então faz o mesmo sentido lutar pelo seu “país Catalão”.

Para alguns defensores das independências espanholas o seu sentimento é o mesmo que teriam os portugueses se de repente Portugal fosse anexado por Madrid.

Sabendo que as disputas territoriais acabam tendencialmente em guerra, há que arranjar uma solução que atenue a escalada de violência que se avizinharia se se mantivessem as actuais posições.

Mas apenas para constatação de factos não seria necessário este texto. Importa arranjar soluções.

A solução, como quase sempre, está no diálogo. O diálogo inicial, por parte do governo central espanhol, deveria ter sido no sentido de impedir o referendo, mas sempre diálogo, nunca ameaça, nem opressão. Do mesmo modo a região da Catalunha deveria ter dialogado no sentido de ter um referendo legal e validado pelo governo central.

Estando o referendo feito e tendo pífia validade legal, mas tremenda importância política, está na hora de lidar com o problema. Impedir pela força a realização de referendos, ou outras actividades independentistas além de ineficaz é extremamente perigoso e potencialmente antidemocrático.

Um político hábil disse que “os problemas sem solução, como este da Catalunha, são para se ir gerindo”. Não sabemos se é assim, mas se a solução é um dos dois “países” perder o seu território, então de facto não há solução, a não ser pela opressão, ou até supressão de um deles.

Nenhuma destas “soluções” é aceitável. Assim sendo ter-se-á que descobrir outra. Isto é o que todos os que se engajam nestas lutas deveriam almejar. O objectivo tem que ser a solução e não a vitória.

A solução que hoje aqui propomos é a única que vemos viável mas, não é por acharmos que esta solução é a melhor, que deixamos de ouvir quaisquer outras, ou sequer que tentamos destruir as outras. Tentamos melhorá-la, roubando até ideias das outras soluções, defendemo-la, mas não temos que eliminar as outras, mesmo que para isso tenhamos que combater milénios de instintos que dizem que se eliminarmos a concorrência teremos sucesso mais facilmente. É verdade, mas queremos a melhor solução e não simplesmente eliminar todas as outras até que a nossa seja a única e, por isso, a escolhida.

A solução seria dar aos independentistas exactamente aquilo que quereriam: Uma espécie de estado probatório, com um número de anos predefinido, ao fim dos quais voltariam ao estatuto anterior após referendo e concordância de ambas as partes (Espanha e Catalunha).

A verdade, ou talvez a esperança que acalentamos, é que se descobriria que não é assim tão diferente ser Espanhol e Catalão ou ser só o segundo. As relações comerciais, sociais e até económicas seriam muito semelhantes com Catalunha independente ou não.

Assim sendo o que propomos é que se deixe que o Catalães decidam, mas num referendo democrático e ratificável.

Admitindo que a decisão seria a independência, então depois seriam necessários vários anos para que a transição se fizesse com a necessária serenidade.

Como sempre, ajuda pensar nos cenários mais extremos:

– A Catalunha separa-se de Espanha e corta todas as relações (sim, também acho que isso é muito pouco provável). Neste caso Espanha perderia a Catalunha, mas a Catalunha perderia a Espanha e todos sabemos que não é a solidão que faz a força.

– Fica tudo como está. Isso seria o tal “gerir do problema”. De facto pode também ser hipótese, mas nunca usando a força física. A pressão de ambos os lados pode e deve ser feita, mas sempre de forma leal e através da discussão de argumentos. Espanha e Catalunha estarão para sempre colados geográfica e historicamente, portanto não faz sentido virarem-se costas sob pena de estreitarem radicalmente a visão e visibilidade que neste momento ainda possuem.

Basta olhar para os casos históricos de separação de países para ver que invariavelmente corre mal; veja-se a Alemanha ou a Coreia.

Veremos o que o futuro trará, mas saibamos que juntos somos melhores. Em último caso, somos todos iguais, espanhóis, chineses ou turcos, cavaleiros de cristo ou jihadistas, comunistas ou fascistas, tudo é feito da mesma amálgama de carne, estupidez e, acima de tudo, humanidade, que, entre outras coisas, é também sinónimo de união.