Deixar o lobo tomar conta do rebanho não parece boa ideia, mas enquanto política for sinónimo de dinheiro, o sucesso será medido em cifrões.
Há no entanto uma ressalva que queremos fazer acerca desta presidência dos Estados Unidos: Neste, como em muitos outros casos, o aparentemente acéfalo presidente Trump é desconcertantemente honesto ao dizer que a escolha de Pruitt significa o “fim da guerra ao carvão“.
Mas para os que acham que Trump tem mais maturidade mental do que um miúdo de 10 anos, é preciso esperar para ver se os cortes de 60% em multas e processos da EPA foram só coincidência, ou se o anúncio feito hoje sobre “deixar cair a Lei da Energia Limpa” será só para substituir por outra lei ainda melhor. O certo é que com gastos de perto de 75 milhões de dólares em armas por ano, a EPA está “equipada” para a luta contra o ambiente pelo ambiente! Não se pense que isto é já o novo director a desperdiçar recursos, nos últimos dez anos esta agência, criada pelo presidente Nixon, gastou mais de 92 milhões de dólares em mobília, mas também com cadeiras a custar mais 4 mil dólares, provavelmente partilham mesas, uma vez que “apenas” gastaram 6000 dólares por funcionário. A boa notícia é que a EPA está a diminuir o número de trabalhadores e portanto não serão necessárias tantas cadeiras.
Nada disto é estranho ou sequer novidade, mas convém lembrar que não é por se arranjar justificação que o errado passa a certo.
Alguma Catalunha não quer ser Espanha, quer ser só Catalunha.
Percebemos os que acham que não pode simplesmente deixar-se que as várias regiões com tendências independentistas se separem do resto do país. Isto abriria possibilidade à completa desagregação de Espanha em pelo menos 3 ou 4 estados diferentes.
Para descobrirmos uma solução teríamos que ir à origem da nação Espanha e até ao conceito de país. Não iremos. Ficamo-nos pelo início do ano quando este “referendo” começou a materializar-se, primeiro na mente de alguns e depois nos actos de muitos independentistas.
Se estivermos nos sapatos de Espanha é impossível que permitamos que uma das suas regiões simplesmente deixe de o ser. Nenhum país no mundo prevê a possibilidade legal de perder parte do seu território.
Mas se nos colocarmos no lugar da Catalunha e considerarmos que Espanha é um opressor que governa sem direito, então faz o mesmo sentido lutar pelo seu “país Catalão”.
Para alguns defensores das independências espanholas o seu sentimento é o mesmo que teriam os portugueses se de repente Portugal fosse anexado por Madrid.
Sabendo que as disputas territoriais acabam tendencialmente em guerra, há que arranjar uma solução que atenue a escalada de violência que se avizinharia se se mantivessem as actuais posições.
Mas apenas para constatação de factos não seria necessário este texto. Importa arranjar soluções.
A solução, como quase sempre, está no diálogo. O diálogo inicial, por parte do governo central espanhol, deveria ter sido no sentido de impedir o referendo, mas sempre diálogo, nunca ameaça, nem opressão. Do mesmo modo a região da Catalunha deveria ter dialogado no sentido de ter um referendo legal e validado pelo governo central.
Estando o referendo feito e tendo pífia validade legal, mas tremenda importância política, está na hora de lidar com o problema. Impedir pela força a realização de referendos, ou outras actividades independentistas além de ineficaz é extremamente perigoso e potencialmente antidemocrático.
Um político hábil disse que “os problemas sem solução, como este da Catalunha, são para se ir gerindo”. Não sabemos se é assim, mas se a solução é um dos dois “países” perder o seu território, então de facto não há solução, a não ser pela opressão, ou até supressão de um deles.
Nenhuma destas “soluções” é aceitável. Assim sendo ter-se-á que descobrir outra. Isto é o que todos os que se engajam nestas lutas deveriam almejar. O objectivo tem que ser a solução e não a vitória.
A solução que hoje aqui propomos é a única que vemos viável mas, não é por acharmos que esta solução é a melhor, que deixamos de ouvir quaisquer outras, ou sequer que tentamos destruir as outras. Tentamos melhorá-la, roubando até ideias das outras soluções, defendemo-la, mas não temos que eliminar as outras, mesmo que para isso tenhamos que combater milénios de instintos que dizem que se eliminarmos a concorrência teremos sucesso mais facilmente. É verdade, mas queremos a melhor solução e não simplesmente eliminar todas as outras até que a nossa seja a única e, por isso, a escolhida.
A solução seria dar aos independentistas exactamente aquilo que quereriam: Uma espécie de estado probatório, com um número de anos predefinido, ao fim dos quais voltariam ao estatuto anterior após referendo e concordância de ambas as partes (Espanha e Catalunha).
A verdade, ou talvez a esperança que acalentamos, é que se descobriria que não é assim tão diferente ser Espanhol e Catalão ou ser só o segundo. As relações comerciais, sociais e até económicas seriam muito semelhantes com Catalunha independente ou não.
Assim sendo o que propomos é que se deixe que o Catalães decidam, mas num referendo democrático e ratificável.
Admitindo que a decisão seria a independência, então depois seriam necessários vários anos para que a transição se fizesse com a necessária serenidade.
Como sempre, ajuda pensar nos cenários mais extremos:
– A Catalunha separa-se de Espanha e corta todas as relações (sim, também acho que isso é muito pouco provável). Neste caso Espanha perderia a Catalunha, mas a Catalunha perderia a Espanha e todos sabemos que não é a solidão que faz a força.
– Fica tudo como está. Isso seria o tal “gerir do problema”. De facto pode também ser hipótese, mas nunca usando a força física. A pressão de ambos os lados pode e deve ser feita, mas sempre de forma leal e através da discussão de argumentos. Espanha e Catalunha estarão para sempre colados geográfica e historicamente, portanto não faz sentido virarem-se costas sob pena de estreitarem radicalmente a visão e visibilidade que neste momento ainda possuem.
Basta olhar para os casos históricos de separação de países para ver que invariavelmente corre mal; veja-se a Alemanha ou a Coreia.
Veremos o que o futuro trará, mas saibamos que juntos somos melhores. Em último caso, somos todos iguais, espanhóis, chineses ou turcos, cavaleiros de cristo ou jihadistas, comunistas ou fascistas, tudo é feito da mesma amálgama de carne, estupidez e, acima de tudo, humanidade, que, entre outras coisas, é também sinónimo de união.